30.12.07

quem gosta de teatro levanta a mão

foto por Camila Morena da Luz
o vento leva com seus braços firmes e aerados meus passos rápidos e saltitantes a lugar algum.tocando de roda, pra cima e pra baixo e a lugar nenhum.um vento doce com cheiro de vendaval.

25.12.07

O Havia de hoje

Havia um senhor que tinha gosto em assaltar a casa alheia, mas não conseguia roubar o pó e as traças, então foi despedido.

Por Joana Bértholo: a portuguesa ótima!

A essencia de Klimt







24.12.07

Aterrizei no que antes podia chamar de minha casa. Hoje não mais lar, nunca doce lar.
Doce o que?Nada.
Se nunca doce, hoje menos ainda.
Com os urros do segundo andar, amargo.
Mas persisto com o sorriso inabalável de "garota promocional".
Sorriso promocional mas verdadeiro, daqueles que a gente tira do cú.
Não deixam de ser verdadeiros, porém doloridos.
A vida é dolorida, porém verdadeira?
Verdadeiro o que?Nada.
Doce o que?

22.12.07

O Havia de hoje

Havia alguém que amava muito uma marionete.Era outra marionete.Eram todos marionetes.Mas eles sabiam-no, e por isso tropeçavam menos nos fios intangíveis dos outros, negações manipuladas de marionetes.Havia alguém que amava mesmo muito uma marionete que também o amava mesmo muito a ele, e nenhum dos dois tinham os joelhos esfolados.

de uma escritora portuguesa ótima!
A vida não entrega, surpreende.

Quando menos se espera algo inesperado, aconteceu.

Não, a vida não poupa.Gasta.

O tempo passa e as rugas ficam.

As marcas.

A vida não nega.Entrega.

A faca escorrega sem controle.

Afiada. Perdida no ar sem sentido.

Como sempre

15.12.07

o HAVIA de hoje

Havia uma menina que acreditava que não precisava de comer e um dia sentiu um vazio tão grande que engoliu um biscoito de chocolate e o irmão mais novo.

de uma autora portuguesa ótima!!!

O quarto ao lado

Escovas de dente, cama de casal, toalhas, televisão tela plana, cama de solteiro, bonecas, ipod, creme de cabelo, barbeador, colcha de casal, geladeira, fogão, computador, aquário, livros, muitos livros, cafeteira, celular, sutiã, cuecas, camisinhas, cartas de amor...remédios pra dor de cabeça, bicicleta, dois carros.Um marido, um filho e uma babá.Mala na mão. Celular desligado.Coloco meu óculos de sol e não olho.O mundo vai acabar.

Ontem

Hoje acordei com o telefone tocando.Porque eu não desliguei essa porcaria?Saio de casa e a rua me estranha,ninguém me olha,entro no bar pra comprar cigarros e ninguém me atende.Vou passar o dia sem cigarros.Entro no carro e não sei para onde ir.Meia hora de rolé pelas vias públicas e resolvo comprar cigarros.De novo.Paro no posto e abro a janela.Espero por 5 minutos.Escuto uma música na rádio e me distraio.Alguém se aproxima.É um mendigo. Ele balbucia algo que não entendo e eu respondo que não. Não tenho dinheiro hoje.Me viro para aumentar o volume do rádio que toca uma música conhecida.O mendigo não foi embora. Me encara com olhos de vidro.Voce é muito linda, ele diz e vai embora.Eu vou embora.Chorando.Sem cigarros.

14.12.07

O Amor Acaba

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas;(...)às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
Paulo Mendes Campos

13.12.07

Eu não sei dizer nada por dizer, então eu escuto.
Eu só vou falar na hora de falar, então eu escuto...